A Vida Amorosa de Moll Flanders - Cap. 2: A vida amorosa de Moll Flanders Pág. 227 / 359

O meu jovem companheiro ficou tão contente que não pôde conter-se.

Estava tudo ao seu alcance, declarou, e jurou veementemente que lhe havia de deitar a mão, nem que tivesse, para isso, de deitar a casa abaixo. Tentei dissuadi-lo, mas compreendi que era inútil e vi-o correr ousadamente para a janela, partir sem ruído e com muita perícia um quadrado de vidro, retirar quatro peças de seda e encaminhar-se com elas na minha direcção logo seguido, porém, de grande alarido. Estávamos juntos, mas eu não pegara em nenhuma das peças de seda quando lhe disse: «Estás desmascarado! Foge, pelo amor de Deus!» Fugiu a toda a velocidade, e eu também, mas perseguiram-no a ele com mais afã, pois tinha as mercadorias e eu não. Deixou cair duas das peças, o que os atrasou um pouco, mas a multidão engrossou e recomeçou a perseguir-nos a ambos. Apanharam-no pouco depois, com o resto das mercadorias roubadas, e continuaram a perseguir-me, mas consegui chegar à casa da minha governanta, onde algumas pessoas de vista mais apurada me viram entrar. Como não bateram imediatamente à porta, tive tempo de despir o disfarce e vestir a minha própria roupa, tanto mais que, quando o fizeram, a minha governanta, que tinha tudo premeditado, não a abriu e lhes gritou que não tinha homem nenhum em casa. O povo teimou, contudo, que vira entrar um homem e ameaçou arrombar a porta.

A velha, sem se perturbar absolutamente nada, falou-lhes com toda a calma e disse-lhes que poderiam revistar a casa à vontade se fossem buscar um polícia, mas que só entrariam os que este determinasse, pois não seria razoável deixar entrar toda a gente. Claro que tiveram de se conformar, embora fossem muitos; foram imediatamente buscar um polícia e então ela abriu, sem mais delongas.





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