A Vida Amorosa de Moll Flanders - Cap. 2: A vida amorosa de Moll Flanders Pág. 262 / 359

Depois de me ouvir contar-lhe o que se passara, desatou a rir, sem que eu percebesse bem porquê.

- De que ri? - indaguei, surpreendida. - A história não é tão cómica como parece imaginar, pois não ganhei para o susto no meio daqueles brutos todos.

- Rio-me, filha, por ver a criatura de sorte que você é. Se proceder com tino, esta história será o melhor negócio da sua vida! Garanto-lhe que pode arrancar quinhentas libras ao fanqueiro, como indemnização das ofensas sofridas, fora o que lhe renderá o caixeiro.

Pessoalmente, os meus pensamentos a esse respeito eram muito diferentes dos dela, pois dissera ao juiz de paz como me chamava e o meu nome era tão conhecido no Hicks's Hall, em Old Bailey e noutros lugares semelhantes que, se o caso fosse julgado publicamente e o meu nome investigado, nenhum tribunal me atribuiria grande indemnização por da- nos sofridos, por via da minha reputação. No entanto, tive de apresentar queixa e a minha governanta arranjou-me um homem de muita confiança para tratar do caso, um advogado com boa clientela e excelente reputação. Fez bem, pois, se empregasse um solicitado r chicaneiro qualquer ou um advogado pouco conhecido ou sem boa reputação, nada lucraria com isso.

Encontrei-me, assim, com o advogado, contei-lhe, por alto, os pormenores atrás relatados e ele afirmou-me ter o caso muito boas perspectivas de êxito e não duvidar de que o júri mandaria pagar considerável indemnização. Iniciou, portanto, as diligências necessárias e o fanqueiro foi preso e saiu afiançado. Poucos dias depois de sair em liberdade foi com o seu advogado visitar o meu, para o informar de que desejava chegar a um acordo. Acontecera tudo na cegueira da cólera, afirmou, e eu, que tinha uma língua afiada e provocante, tratara-os mal, escarnecera e zombara deles mesmo quando estavam convencidos de que era a mulher que procuravam, provocara-os, etc.





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