A Vida Amorosa de Moll Flanders - Cap. 2: A vida amorosa de Moll Flanders Pág. 266 / 359

O fanqueiro recebeu-nos delicadamente e pagou de bom grado, ficando-lhe a brincadeira em duzentas libras, ou mais. No último encontro, quando tudo estava já resolvido, abordou-se o caso do caixeiro, pelo qual o patrão intercedeu com muita insistência. Em tempos fora estabelecido por conta própria, disse-me, mas agora era muito pobre, tinha mulher e vários filhos e não possuía nada com que pudesse dar-me satisfação; se eu quisesse, viria pedir-me perdão de joelhos, em público se fosse esse o meu desejo. Não tinha qualquer má vontade especial pelo atrevido nem me interessava a sua submissão, visto saber que nada obteria dele, e por isso achei que podia mostrar-me generosa. Respondi ao fanqueiro que não desejava a ruína de ninguém, como já lhe dissera, e que perdoaria ao desgraçado, a seu pedido; seria indigno de mim querer vingar-me.

Quando jantávamos, chamou o miserável, a fim de pedir desculpa, o que parecia disposto a fazer com tanta humildade sórdida quanta arrogância insultuosa usara na ofensa, dando assim notório exemplo da absoluta baixeza de um espírito que era irreverente, cruel e implacável quando se encontrava em situação de superioridade e prosperidade e abjecto e desanimado quando se dava o inverso. Mas atalhei-lhe logo as bajulices e disse-lhe que lhe perdoava e desejava que se fosse embora, como se, apesar do perdão, não o pudesse ver.

Encontrava-me agora em excelente situação para me retirar, se não me faltasse lucidez para o compreender, e a minha governanta disse-me muitas vezes que eu era a mulher mais rica daquele ofício em Inglaterra, o que não me repugnava acreditar, visto possuir seiscentas libras em dinheiro, não contando com roupas, anéis, alguma prata e dois relógios de ouro - tudo roubado, pois tive mais aventuras do que as mencionadas.





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