Pouco depois de resolvida esta questão do fanqueiro decidi sair com um disfarce absolutamente diferente de quantos usara antes e vesti-me de pedinte, cobrindo-me com os farrapos mais grosseiros e imundos que encontrei e espreitando em todas as portas e janelas pelas quais passava. Nunca me vira em tais apuros, eu que detestava, por temperamento, andrajos e porcaria; fora criada com asseio e arranjo e não sabia viver sem eles, qualquer que fosse a minha situação. Este foi, por isso, o pior de todos os disfarces que adoptei. Não tardei a dizer para comigo que aquela ideia não daria resultado, pois toda a gente parecia desconfiada e receosa dos meus farrapos. Dir-se-ia que todos me olhavam como se tivessem medo de que me aproximasse deles, não fosse tirar-lhes qualquer coisa, ou como se receassem aproximar-se de mim, não fosse pegar-lhe algum mal. Vagueei assim toda a tarde, a primeira vez que saí, e regressei a casa de mãos a abanar, molhada, enlameada e exausta. No entanto, voltei a sair no dia seguinte e meti-me numa aventura que me podia ter custado caro. Encontrava-me junto de uma taberna quando chegou um cavalheiro a cavalo, se apeou e, desejando entrar no estabelecimento, chamou um dos moços e ordenou-lhe que segurasse o animal. Demorou-se muito tempo e, a certa altura, ouvindo o patrão chamá-lo, o moço temeu que se zangasse com ele e pediu-me. «Eh, mulher, segure-me neste cavalo enquanto vou lá dentro; se o dono vier, dar-lhe-á qualquer coisa.