A Vida Amorosa de Moll Flanders - Cap. 2: A vida amorosa de Moll Flanders Pág. 323 / 359

Prevenira-me com tinta, pena e papel e, assim, tinha já pronta uma carta para a minha governanta, na qual meti outra para o meu marido, sem no entanto dizer àquela quais eram as nossas relações. Informava-a do lugar onde se encontrava o barco e pedia-lhe que me enviasse as coisas que, sabia, preparara para a minha viagem.

Ao entregar a carta ao contramestre dei-lhe também um xelim, dizendo que era para pagar a um mensageiro e rogando-lhe que mandasse entregar a carta assim que chegasse a terra e visse se era possível trazer uma resposta pelo mesmo portador, a fim de eu saber o que era feito das minhas coisas, «pois, senhor», acrescentei, «se o barco partir antes de elas chegarem a bordo, estarei perdida».

Quando lhe dei a moeda, tive o cuidado de lhe mostrar que estava mais bem provida que os outros prisioneiros, abrindo à sua vista uma bolsa com bastante dinheiro. Percebi que isso bastou, acto contínuo, para que me fosse dispensado muito melhor tratamento do que receberia se não tivesse nada, pois, embora antes se mostrasse muito delicado, com uma espécie de compaixão natural pela mulher desventurada que eu era, depois a sua delicadeza aumentou e proporcionou-me tratamento melhor do que teria noutras circunstâncias, como mais adiante vereis.

Entregou pessoalmente a carta à minha governanta e trouxe-me uma resposta dela, por escrito, devolvendo-me ao mesmo tempo o xelim e dizendo:

- Aqui tem o seu xelim; fui eu que entreguei a carta.

Não soube que dizer, de tão surpreendida, mas passado um bocado consegui murmurar:

- É muito amável, senhor. Teria sido razoável se, com este dinheiro, pagasse um lugar numa carruagem.

- Oh, não! Já estou muito bem pago. Que lhe é aquela senhora, sua irmã?

- Não, senhor, não me é nada, excepto uma boa amiga, a única que tenho no mundo.





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