- Pois há poucas amigas assim, acredite! Pobre senhora, chorou por si como uma criança.
- Oh, tenho a certeza de que daria de boa vontade cem libras para me libertar da triste situação em que me encontro! - exclamei com um suspiro.
- Daria? Bem, creio que, por metade desse dinheiro, eu próprio con- seguiria arranjar-lhe maneira de se libertar - afirmou, baixinho, para que ninguém ouvisse.
- Ai de mim, senhor, pois se fosse libertada assim e tivesse a infelicidade de ser apanhada de novo perderia a vida!
- Claro que, uma vez fora do barco, teria de olhar por si mesma... - concordou. - A esse respeito nada posso dizer.
- Deixámos a conversa por aí, dessa vez.
Entretanto a minha governanta, fiel até ao fim, fez chegar a minha carta às mãos do meu marido, na prisão, recebeu a sua resposta e, no dia seguinte, apareceu no barco, levando-me, em primeiro lugar, «uma cama de mar», como dizem, e todos os pertences apropriados, embora sem exageros, para não dar que falar. Levou-me também uma arca como as que usam os marinheiros, com quase todas as coisas de que eu poderia precisar, e num canto, numa gavetinha secreta, o dinheiro que eu resolvera levar comigo. Combinara com ela deixar ficar parte dos meus bens, para me mandar depois as mercadorias que me conviessem quando me estabelecesse, pois, na terra para onde íamos, o dinheiro não tem muita utilidade e todas as coisas se pagam com tabaco. Seria desacertado levá-lo.
Mas o meu caso era diferente e não poderia ir sem dinheiro ou mercadorias. Sendo uma pobre condenada destinada a ser vendida assim que desembarcasse, se levasse comigo um carregamento de mercadorias, chamaria as atenções para mim e talvez mas confiscassem. Por isso decidira levar parte do dinheiro e deixar a outra parte entregue à minha governanta.
