A Vida Amorosa de Moll Flanders - Cap. 2: A vida amorosa de Moll Flanders Pág. 346 / 359

Depois tivemos de atravessar o grande rio ou baía de Chesapeake, onde o Potomac desagua e que tem cerca de trinta milhas de largura, e a seguir navegámos por outras vastas extensões de água cujos nomes ignoro, numa viagem de duzentas milhas efectuada numa miserável chalupa onde levávamos todos os nossos tesouros. Se nos sucedesse alguma fatalidade, estaríamos irremediavelmente perdidos. Que aconteceria se perdêssemos os nossos bens e salvássemos apenas as vidas, ficando desprovidos de tudo numa terra estranha e bravia, sem um amigo ou um conhecido? Só de pensar nisso me sinto cheia de horror, apesar de o perigo ter já passado.

Chegámos ao fim de cinco dias de navegação ao nosso destino, uma terra que julgo chamar-se Philip's Point, e verificámos que o barco para a Carolina carregara e zarpara três dias antes. Foi uma decepção, sem dúvida, mas, como nada me desencorajava, disse ao meu marido que, visto não obtermos passagem para a Carolina e a terra parecer, ali, fértil e boa, podíamos, se estivesse de acordo, ver se havia alguma coisa que nos agradasse e estabelecer-nos onde nos encontrávamos, sem irmos mais longe.

Desembarcámos imediatamente, mas não se nos deparou nenhuma conveniência, quer para ficarmos em terra, quer para armazenarmos as nossas mercadorias. No entanto, um honesto quacre que encontrámos indicou-nos um lugar que ficava cerca de sessenta milhas a leste, isto é, mais perto da entrada da baía, onde nos disse que vivia e onde nos acomodaríamos, quer para começarmos já a plantar, quer para aguardarmos que surgisse outro lugar mais conveniente para os nossos projectos. Convidou-nos com tanta gentileza e simplicidade que resolvemos ir e ele acompanhou-nos.

Comprámos dois servos - uma mulher acabada de chegar num barco de Liverpool e um negro -, o que era absolutamente necessário a quem pretendia instalar-se naquela região.





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