A Vida Amorosa de Moll Flanders - Cap. 2: A vida amorosa de Moll Flanders Pág. 69 / 359

Disse-lhe também que, como tinha uma boa fortuna, não precisava de se sujeitar aos maus hábitos da época, pois já era de mais que os homens insultassem as que, como eu, tinham pouco dinheiro que as recomendasse; que, se sofresse tal afronta sem se mostrar ofendida, seria amesquinhada em todas as ocasiões e a vergonha de todas as mulheres naquela parte da cidade; que uma mulher nunca devia perder uma oportunidade de se vingar de um homem que a tratou mal e que não faltavam maneiras de humilhar tal indivíduo, pois, de outro modo, as mulheres seriam os seres mais infelizes do mundo.

Verifiquei que o meu discurso lhe agradou, pois disse-me, muito a sé- rio, que teria muito gosto em fazer-lhe sentir o seu justo ressentimento e reconquistá-lo ou então tornar tão pública quanto possível a sua vingança.

Repliquei-lhe que, se seguisse os meus conselhos, lhe diria como poderia satisfazer os seus desejos em ambos os propósitos e me comprometia a trazer de novo o indivíduo à sua porta e a forçá-lo a pedir licença para entrar. Sorriu-me e não tardou a dar-me a entender que, se ele voltasse à sua porta, o seu ressentimento não era tão grande que o deixasse lá ficar muito tempo à espera.

No entanto, escutou de muito bom grado os meus conselhos. Comecei por lhe dizer que a primeira coisa que devia fazer era justiça a si mesma, pois várias pessoas a haviam informado de que ele se gabava, entre as senhoras, de a ter deixado e pretendia enfeitar-se com os louros da recusa. Devia, portanto, espalhar o mais possível entre as mulheres - o que não seria nada difícil num lugar tão dado a mexericos como aquele em que vivíamos - que se informara das circunstâncias do pretendente e verificara que, no respeitante a bens, não era o homem que pretendia ser.





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