A Vida Amorosa de Moll Flanders - Cap. 2: A vida amorosa de Moll Flanders Pág. 85 / 359

Deixei-o sentir-se satisfeito durante dois ou três dias com as cento e sessenta libras e depois ausentei-me e, como se tivesse ido buscá-las, entreguei-lhe mais cem libras de ouro, dizendo-lhe que havia ainda um pouco mais. Em resumo, em cerca de uma semana entreguei-lhe mais cento e oitenta libras e perto de sessenta libras em tecidos com as cem libras de ouro que lhe dera como pagamento de uma dívida de seiscentas libras, ou seja, pouco mais que vinte e cinco por cento.

- Agora, meu querido, lamento dizer-te que te dei toda a minha fortuna. - E acrescentei que, se a pessoa que me devia as seiscentas libras me não tivesse enganado, a minha fortuna seriam mil libras, mas que não deixara de ser sincera com ele e de lhe dar tudo, sem reservar nada para mim; se mais tivesse, mais lhe daria.

Ficou tão grato pela minha atitude e tão satisfeito com a importância recebida, pois vivera no medo terrível de que eu não tivesse nada, que aceitou o pouco que lhe dava e se desfez em agradecimentos. Assim, consegui sair-me bem da artimanha de passar por rica sem ter dinheiro e de levar um homem a casar comigo convencido de que o tinha - o que, diga-se de passagem, considero um dos passos mais perigosos que uma mulher pode dar, pois corre o grande risco de pagar a mentira com maus tratos futuros.

Mas o meu marido, verdade seja dita, era um indivíduo infinitamente bondoso, embora não fosse tolo. Ao verificar que os seus rendimentos não lhe proporcionavam o modo de vida que sonhara se eu tivesse levado o dote que esperara, e decepcionado com os lucros das suas plantações, falava muitas vezes no seu desejo de viver na Virgínia, no que era seu, e não se cansava de exaltar a maneira como lá se vivia, afirmando que a vida era barata e agradável, que havia abundância e sei lá que mais.





Os capítulos deste livro