A Vida Amorosa de Moll Flanders - Cap. 2: A vida amorosa de Moll Flanders Pág. 88 / 359

- Quando chegam aqui - continuou ela -, não fazemos qualquer distinção; os plantadores compram-nos e trabalham juntos no campo, até cumprirem a sua pena. Quando esta expira, encorajam-nos a plantar por conta própria, pois é-lhes concedido um certo número de acres, que desbravam e onde plantam tabaco e cereal para seu uso próprio, e, como os comerciantes e os mercadores lhes fiam ferramentas, roupas e outros artigos de primeira necessidade, para serem pagos quando se fizerem as colheitas, todos os anos plantam um pouco mais que no anterior e compram o que precisam por conta da próxima colheita. Foi assim, minha filha, que muitos deportados de Newgate se tornaram grandes homens, e por isso temos vários juízes de paz, oficiais de milícias e magistrados de diversas cidades que foram marcados a fogo na mão.

Foi ao relatar-me estes casos que veio a propósito referir-me o seu e, sem se perturbar, contou-me que fizera parte da segunda categoria de habitantes, que fora descoberta depois de se ter aventurado demasiado em determinado assunto e se tornara delinquente.

- Cá está a marca, filha - disse, enrolando a manga e revelando o braço e a mão muito bonita e muito branca, mas marcada na palma, como é costume em tais casos.

A sua história comoveu-me muito, mas ela sorriu-me e disse-me:

- Não deves considerar estranho o que te contei, querida, pois, como te expliquei, alguns dos melhores homens desta terra foram queimados na mão e não se envergonham agora disso. Por exemplo, o major... foi um famoso carteirista e o juiz Ba... um ladrão de lojas, pelo que estão ambos marcados na mão; e muito mais nas mesmas condições poderia no- mear-te.

De facto, tivemos muitas conversas a este respeito e não foram poucos os exemplos que me deu de casos semelhantes.





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