A Origem da Tragédia - Cap. 19: Capítulo 19 Pág. 111 / 164

A analogia encontrada entre aquelas pelo compositor, deve ser proveniente de um conhecimento imediato do ser do universo, in­cons­cien­te­mente de sua razão, e não deve ser, com intenção consciente, imitação ocasionada por conceitos, senão a música não externa a ser interior, a vontade de si mesma, imitando apenas insuficientemente seus fenômenos, como o faz toda a música em verdade imitativa”.

Entendemos então, seguindo o preceito de Schopenhauer, a música como a linguagem da vontade imediata e sentimos nossa fantasia excitada a formar aquele mundo de espíritos, que, invisível, a nós se dirige, e que, apesar disto, é tão movimentado, e corporificá-la para nós num exemplo análogo. Por outro lado adquire imagem e conceito, sob a influência de uma música que realmente corresponde a uma importância mais elevada. Efeitos de duas classes costuma exercer a arte dionisíaca sobre a potência artística apolínica: a música instiga à contemplação comparativa da universalidade dionisíaca; a música faz aparecer em seguida a imagem comparativa na importância mais elevada. Destes fatos, compreensíveis, e que não são inacessíveis para observações mais profundas, deduzo a aptidão que a música possui de gerar o mito, isto é, o exemplo mais significativo, o mito trágico, o mito que fala em alegorias de conhecimentos dionisíacos. No concernente ao fenômeno do lírico expus como a música se esforça no lírico por se manifestar em imagens apolínicas a respeito de sua essência. Imaginamos agora que a música em sua gradação mais elevada deve tentar chegar a uma representação elevada, e assim devemos considerar possível que ela encontre a expressão simbólica para a sua sabedoria propriamente dionisíaca; e onde deveríamos procurar esta expressão, se não na Tragédia, no conceito do trágico?





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