A Origem da Tragédia - Cap. 22: Capítulo 22 Pág. 130 / 164

Que benevolência confiante de tais esforços arriscados, no seio da cultura teórica! — explicáveis somente pela crença consoladora, de que “o homem em si” é o herói eternamente virtuoso da ópera, o pastor que eternamente canta ou toca flauta, que sempre deve reencontrar-se como tal, mesmo que alguma vez se tenha perdido por algum tempo em algum lugar, sendo somente o fruto daquele otimismo, que, das profundezas da conceção universal socrática, aqui se eleva como uma doce coluna de perfume sedutor.

Os traços da ópera não apresentam, em todo caso, aquela dor elegíaca de uma perda eterna, mas sim a alegria de um reencontrar-se eterno, o prazer cômodo em uma verdade idílica que, pelo menos em qualquer momento, pode ser representada como real, no que por vezes se pressente que esta presumida verdade nada mais é senão uma frivolidade fantástica e inútil à qual aquele, que saberia medi-la na seriedade horrível da natureza verdadeira e compará-la com as verdadeiras cenas primitivas da humanidade, devesse exclamar com asco: Fora com o fantasma! Apesar disso seria engano supor que tal ser frívolo, como a ópera, possa ser afugentado como um espectro, por meio de um grito forte, apenas. Aquele que deseja destruir a ópera, deve lutar contra aquela alegria alexandrina, que nela tão ingenuamente se expressa sobre sua representação predileta, cuja forma artística própria é ela mesma. O que se deve esperar, no entanto, para a própria arte da ação de formas artísticas cujas origens nem sequer se situam em domínio estético, que, muito pelo contrário, conseguiu passar de esfera semi-moral ao terreno artístico, e que só algumas vezes conseguiu esconder sua origem híbrida?





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