A Origem da Tragédia - Cap. 15: Capítulo 15 Pág. 85 / 164

Somente a epopeia dramatizada, em cujo território artístico o efeito trágico é, em verdade, inacessível. Não importa aqui a essência ou o conteúdo dos acontecimentos representados, e quero mesmo asseverar que teria sido impossível a Goethe, em sua projetada “Nausikaa”, causar o suicídio daquele ser idílico — que deveria ocupar todo o quinto ato — tragicamente comovedor; tão imensa é a força do épico-apolínico, que encanta, com o desejo do brilho e da redenção, as cousas mais horríveis, pela aparência e diante de nossas vistas. O poeta da epopeia dramatizada tampouco pode fundir-se totalmente com suas imagens, como o pode o rapsoda épico; ele todo é contemplação quieta, imóvel, que vê as imagens diante de si. O artista em sua epopeia dramatizada continua rapsoda no fundo recôndito; a consagração do sonho interior está em todas as suas ações, de modo a nunca se tornar ator completo.

Como se comporta perante este ideal do drama apolínico a peça euripidéica? Identicamente ao comportamento que, para com o rapsoda solene dos tempos antigos, tem aquele dos mais recentes, e que descreve o seu ser no “Ion” platônico: “Quando digo algo triste enchem-se meus olhos de lágrimas; quando porém é terrível e horroroso aquilo que exprimo, eriçam-se os meus cabelos de terror, e o meu coração palpita fortemente”. Aqui nada mais se percebe daquele épico “estar-perdido” na aparência, da frieza sem afetos do verdadeiro ator que, justamente em sua maior atividade é totalmente aparência e prazer na aparência. Eurípides é o ator com o coração palpitante, com os cabelos eriçados; como pensador socrático ele concebe o plano, como ator apaixonado o executa. Artista verdadeiro ele não é nem no conceber e nem no executar.





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