Isto nos diz um poeta, que resistiu a Dionísio com força heroica, durante uma longa vida, para, no fim dela, terminar a sua carreira com a glorificação de seu adversário e o suicídio, semelhante a quem, sentindo vertigens, se arroja de uma terra, a fim de fugir ao remoinho popular horrível, e insuportável. Aquela tragédia é um protesto contra a exequibilidade de sua tendência; ah! ela já tinha sido executada! O maravilhoso tinha acontecido; ao desdizer-se o poeta, sua tendência já tinha vencido. Dionísio já tinha sido escorraçado do palco trágico, e isto por uma força demoníaca, que falava pela boca de Eurípides. Também Eurípides não passava, em certo sentido, de uma máscara. A divindade que falava por sua boca não era Dionísio, nem Apolo, mas sim um demônio recém-nascido, e que se chamava Sócrates. É esta a nova contradição: o dionisíaco e o socrático, assim como a obra artística da tragédia grega, nela pereceram. Mesmo que Eurípides tente agora consolar-nos, com sua retratação, ele não o consegue; o templo maravilhoso está despedaçado, jazendo por terra; de que nos servem os lamentos de seu destruidor e sua confissão ter sido este o mais belo de todos os templos? E mesmo o fato de Eurípides ter sido transformado, pelos juízes de arte de todos os tempos, em dragão — a quem satisfará esta miserável compensação?
Aproximemo-nos agora daquela tendência socrática, com a qual Eurípides combateu e venceu a tragédia esquiléica.
Qual o fim — essa pergunta devemos dirigi-la a nós mesmos — que poderia ter a intenção euripidéica em fundamentar o drama exclusivamente no não-dionisíaco, na idealidade mais elevada de sua execução? Que forma do drama restava, se não tinha que provir do lugar no qual se originou a música, naquele misterioso lusco-fusco do dionisíaco?