Assim é o drama euripidéico ao mesmo tempo frio e fogoso, capacitado a congelar-se tanto como a queimar-se; é-lhe impossível atingir o efeito apolínico da epopeia, enquanto se separou, por outro lado, o mais possível dos elementos dionisíacos, necessitando agora, para produzir efeito, de novos estimulantes, que não se podem agora achar mais entre os dois únicos impulsos artísticos, o apolínico e o dionisíaco. Estes estimulantes são pensamentos frios e paradoxais — em lugar de conceções apolínicas — e afetos fogosos — em lugar de êxtases dionisíacas — e pensamentos e afetos imitados com muita realidade, e de modo algum impregnados do éter da Arte.
Se, pelo exposto, reconhecemos não ter sido possível a Eurípides fundamentar o drama exclusivamente no dionisíaco, mas que, muito pelo contrário, sua tendência anti dionisíaca se transformou em tendência naturalista e antiartística, então podemo-nos aproximar do ser do socratismo estético, cuja lei principal reza mais ou menos o seguinte: “tudo deve ser inteligível, a fim de ser belo”; como paralelo à frase socrática: “só aquele que sabe, é o virtuoso”. Com este cânone na mão, media Eurípides toda cousa isolada, retificando-a segundo o seguinte princípio: a língua, os caracteres, a composição dramática, a música coral. A falta poética e o retrocesso, de que, em comparação com a tragédia sofocléica, costumamos culpar Eurípides, é em sua maior parte o produto desse processo penetrante e crítico, dessa compreensão temerária. Que o prólogo euripidéico nos sirva como exemplo da produtividade daquele método racionalista. Nada pode ser mais repulsivo à nossa técnica cênica do que o prólogo no drama de Eurípides.