Parte IV MOÇA
Ando dizendo entre mi
Que agora vai em dous anos
Que eu fui lavar os panos
Além do chão d’Alcami.
E logo partiu a armada
Domingo de madrugada.
Não pode muito tardar
Nova se há-de tornar
Nosso amo pera a pousada.
AMA
Asinha?
MOÇA
Três anos há
Que partiu Tristão da Cunha.
AMA
Quant’eu ano e meo punha.
MOÇA
Mas três e mais haverá.
AMA
Vai tu comprar de comer.
Tens muito pera fazer,
Não tardes.
MOÇA
Não, senhora;
Eu virei logo nessora
Se m’eu lá não detiver.
AMA
Mas que graça que seria,
Se este negro meu marido
Tornasse a Lisboa vivo
Pera minha companhia!
Mas isto não pode ser;
Que ele havia de morrer
Somente de ver o mar.
Quero fiar e cantar,
Segura de o nunca ver.
Moça, regressando da rua:
MOÇA
Ai, senhora! venho morta:
Nosso amo é hoje aqui.