A Mulher de Trinta Anos - Cap. 3: Aos trinta anos Pág. 110 / 205

- Seria - pensou consigo, retirando-se - o amor à distância, uma correspondência a fatigar um subchefe ambicioso! Contudo, se eu quisesse... Este fatal Se eu quisesse! sempre perdeu os teimosos. Na França, o amor-próprio conduz à paixão. - Carlos voltou à casa da senhora d’Aiglemont e pareceu-lhe notar que. a sua conversação lhe causava certo prazer. Em vez de se entregar simplesmente à felicidade de amar, quis representar dois papéis. Tentou mostrar-se apaixonado, depois analisar friamente a marcha dessa intriga, ser amante e diplomata; porém era generoso e novo; esse exame devia conduzi-lo a um amor sem limites; por que, artificiosa ou natural, a marquesa era sempre mais forte que ele. Cada vez que saía da casa da senhora d’Aiglemont, Carlos persistia na sua desconfiança e submetia as situações progressivas pelas quais passava a sua alma a uma simples e severa análise, que matava suas próprias emoções.

- Hoje - dizia consigo na terceira visita -, fez me compreender que era muito infeliz e só no mundo e que, se não tivesse a filha, desejaria ardentemente a morte. Mostrou-se de uma resignação perfeita. Ora, não sendo eu nem seu irmão nem seu confessor, por que me confiou seus desgostos? Ela me ama.

Dois dias depois, retirando-se, revoltava-se contra os hábitos modernos.

- O amor toma a cor do seu século. Em 1822, é doutrinário. Em lugar de se provar, como dantes, por meio de fatos, discutem-no, tornam-no um discurso de tribuna. As mulheres vêem-se reduzidas a três meios: primeiro, questionam nossa paixão, recusam-nos o poder de amar tanto quanto elas. Coquetismo!, verdadeiro desafio que a marquesa me fez esta noite. Depois, fazem-se muito infelizes para excitar nossas generosidades naturais ou nosso amor-próprio. Não se achará qualquer rapaz lisonjeado por consolar um grande infortúnio? Enfim, elas têm a mania da virgindade! Ela deve ter pensado que eu a acreditei completamente nova.





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