Capítulo 3: Aos trinta anos
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Foi, portanto, deveras perturbada que a marquesa ouviu anunciar o senhor de Vandenesse; e ele apresentou-se quase envergonhado, não obstante a confiança que os diplomatas têm geralmente em si próprios. Mas a marquesa depressa mostrou essa atitude afetuosa sob a qual as mulheres se abrigam das interpretações frívolas. Essa contenção repele quaisquer segundas intenções e dissimula, por assim dizer, o sentimento, temperando-o com as formas da polidez. Conservam-se assim o tempo que querem nessa equívoca posição, como numa encruzilhada que conduz igualmente ao respeito, à indiferença, ao assombro ou à paixão. Só aos trinta anos pode uma mulher conhecer os recursos dessa situação. Sabe então rir, gracejar e enternecer-se sem se comprometer. Possui então o tato necessário para tocar no homem todas as cordas sensíveis e estudar os sons que daí tira. Seu silêncio é tão perigoso como suas palavras. Nunca se pode adivinhar se, nessa idade, é fraca ou falsa, se zomba ou se é de boa-fé nas suas confissões. Depois de ter dado o direito de se lutar com ela, de súbito, com uma palavra, um olhar, um desses gestos cujo poder lhe é conhecido, termina o combate, nos abandona e fica senhora do nosso segredo, livre para nos imolar com um gracejo ou para se ocupar de nós, protegida igualmente pela sua franqueza e pela nossa força. Embora a marquesa se colocasse, durante essa primeira visita, nesse terreno neutro, soube aí conservar uma alta dignidade. Suas dores íntimas pairaram sempre sobre sua alegria falsa como uma nuvem ligeira que esconde imperfeitamente o sol. Carlos de Vandenesse saiu depois de ter experimentado nessa conversação delícias desconhecidas; porém ficou convencido de que a marquesa era uma dessas mulheres cuja conquista custa muito caro para que se possa empreender amá-las.
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