A Mulher de Trinta Anos - Cap. 3: Aos trinta anos Pág. 118 / 205

“Se ele desanimar, então permanecerei só e fiel.” Esse pensamento acudiu ao coração daquela mulher, e foi para ele o que é o ramo de salgueiro demasiado fraco que o náufrago agarra antes de ser levado pela corrente. Ouvindo aquela sentença, Vandenesse teve um involuntário estremecimento que fez mais impressão no coração da marquesa do que todas as suas assiduidades passadas. O que mais seduz as mulheres é encontrar nos amantes delicadezas graciosas, sentimentos tão sutis como os seus; porque nelas a graça e a delicadeza são os indícios do verdadeiro. O gesto de Carlos revelava um amor verdadeiro. A senhora d’Aiglemont conheceu a força da afeição de Vandenesse pela força da sua dor. O rapaz disse com frieza:

- Talvez você tenha razão. Novo amor, nova aflição.

Depois mudou de assunto, e falou de coisas indiferentes; porém, estava visivelmente comovido, olhava para a senhora d’Aiglemont com uma atenção concentrada como se a visse pela primeira vez. Finalmente deixou-a, dizendo com a voz alterada:

- Adeus, minha senhora.

- Até breve - disse a marquesa com essa fina faceirice cujo segredo pertence às mulheres de elite. Vandenesse não respondeu e saiu.

Depois de vê-lo afastar-se, de já não tê-lo perto de si, a marquesa sentiu-se pesarosa e arrependida. A paixão faz enorme progresso na mulher, no momento em que ela julga ter procedido pouco generosamente ou ter ferido alguma alma nobre. Nunca se deve desconfiar dos maus sentimentos: em questões de amor, são muito salutares; as mulheres só sucumbem sob um rasgo de virtude. De promessas está cheio o inferno não é um paradoxo de pregador. Vandenesse estava uns dias sem aparecer. Todas as tardes, à hora do encontro usual, a marquesa esperou-o com impaciência cheia de remorsos. Escrever equivalia a uma confissão; de resto, seu instinto dizia-lhe que ele voltaria.





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