No sexto dia, o criado anunciou-o. Nunca a marquesa tinha ouvido esse nome com maior prazer. Sua alegria assustou-a.
- Castigou-me bem! - disse a senhora d’Aiglemont.
Vandenesse fitou-a com espanto.
- Castiguei-a! - repetiu ele. - Como?
Carlos compreendia perfeitamente a marquesa, mas queria vingar-se dos sofrimentos que ela lhe havia infligido no momento em que ela os suspeitava.
- Por que não tem vindo me ver? - perguntou a marquesa sorrindo.
- Não tem visto então ninguém? - disse Carlos para não dar uma resposta direta.
- Os senhores de Ronqueroiles e de Marsay, o pequeno d’Esgrignon estiveram aqui; um ontem, o outro esta manhã, cerca de duas horas. Também vi a senhora Firmiani e sua irmã, a senhora de Listomère.
Outro sofrimento! Dor incompreensível para os que não amam com esse despotismo invasor e feroz cujo mínimo efeito é um ciúme monstruoso, um desejo perpétuo de subtrair o ente adorado a toda influência estranha ao amor
- Como! disse consigo Vandenesse. - Ela recebeu visitas, viu pessoas alegres, falou-lhes, enquanto eu permaneci só, infeliz!
Ocultou sua dor e lançou seu amor no fundo do coração, como um caixão ao mar. Seus pensamentos eram desses que não se exprimem, têm a rapidez dos ácidos que matam, evaporando-se. Contudo, a fronte toldou-se de nuvens, e a senhora d’Aiglemont obedeceu ao instinto da mulher, partilhando aquela tristeza sem a conceber. Não era cúmplice do mal que fazia, e Vandenesse logo o notou. Falou da sua situação, do seu ciúme como se fosse uma dessas hipóteses que os amantes gostam de discutir. A marquesa compreendeu tudo e sentiu-se tão vivamente comovida que não pôde conter as lágrimas. Desde esse momento, penetraram nos céus do amor. O céu e o inferno são dois grandes poemas que formulam os dois únicos pontos sobre os quais gira nossa existência: a alegria ou a dor.