A Mulher de Trinta Anos - Cap. 1: Primeiros erros Pág. 13 / 205

Para obter sempre seu sorriso e seu amor desdenhoso, seria necessário ter o poder de Deus. Pois então chega um outro! Um amante, um marido que nos leva seu coração.

Júlia, atônita, fitou o pai, que caminhava lentamente, lançando-lhe turvos olhares.

- Você se oculta até de nós - tornou o velho -, e talvez de você mesma...

- Que diz, meu pai?

- Parece-me, Júlia, que você tem segredos para mim. Você está amando - tornou vivamente o ancião, notando o rubor que subira ao rosto da filha. - Ah!, eu esperava vê-la fiel a seu velho pai até a minha morte; esperava conservá-la junto de mim, feliz e radiante! Admirá-la como estava agora. Ignorando seu destino, teria podido acreditar num futuro tranqüilo para você; mas agora é impossível ter esperança de felicidade na sua vida, porque você ama mais o coronel do que o primo. Já não posso ter dúvidas.

- E por que me havia de ser proibido amá-lo? - indagou ela com viva expressão de curiosidade.

- Ah!, minha Júlia, você não me compreenderia - replicou o pai suspirando.

- Mas diga - tornou Júlia com um gesto de amuo.

- Pois bem, minha filha, escute-me. As moças sonham muitas vezes com uns seres nobres encantadores, criaturas perfeitamente ideais, e assim forjam quimeras acerca dos homens, dos sentimentos e do mundo; depois atribuem inocentemente a um caráter as perfeições com que sonham e nele confiam; amam no homem da sua escolha esse ente imaginário; porém, mais tarde, quando já não podem fugir à desgraça, a aparência enganadora que embelezaram, o seu primeiro ídolo, enfim, transforma-se num esqueleto odioso. Júlia, eu preferia que você amasse um velho a vê-la amar o coronel. Ah!, se você pudesse adivinhar o que acontecerá daqui a dez anos, faria justiça à minha experiência. Conheço Victor: a sua alegria é sem espírito, alegria de caserna, não tem talento e é perdulário.





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