A Mulher de Trinta Anos - Cap. 5: Os dois encontros Pág. 147 / 205

Helena, Gustavo, o general e a esposa estremeceram; mas nem Abel nem Moina acordaram.

- Está apressado esse aí - disse o militar, de pondo a filha na poltrona.

Saiu bruscamente do salão sem ter ouvido a súplica da esposa:

- Meu querido, não vá...

O general passou ao quarto de dormir, pegou uma pistola, acendeu uma lanterna, correu para a escada, descida com a rapidez de um raio, e depressa se encontrou à porta da casa, para onde o filho intrepidamente o seguiu.

- Quem está aí? - perguntou.

- Abra - respondeu uma voz quase sufocada.

- É amigo?

- Sim, amigo.

- Está só?

- Sim... Mas abra, porque eles vêm chegando!

O homem introduziu-se no portal com a fantástica velocidade de uma sombra, assim que o general entreabriu a porta; e, sem que este pudesse opor-se, o desconhecido obrigou-o a largá-la, empurrando-a com força, e encostando-se resolutamente como para impedir que a tornasse a abrir. O general, que levantou rapidamente a pistola e a lanterna à altura do peito do intruso para mantê-lo sob domínio, viu um homem de estatura regular, envolto numa capa de peles, agasalho de velho, amplo e comprido, que parecia não ter sido feito para ele. Fosse por prudência ou por simples acaso, o fugitivo tinha a fronte inteiramente oculta por um chapéu caído para os olhos.

- Senhor - disse ele ao general -, abaixe o cano da sua pistola. Não pretendo conservar-me em sua casa sem seu consentimento; mas, se saio, a morte espera-me na barreira. E que morte! Responderia por ela perante Deus. Peço-lhe hospitalidade por duas horas. Reflita bem, senhor; embora suplicante, devo ordenar com o despotismo da necessidade. Quero a hospitalidade da Arábia. Devo ser sagrado para si; senão, se abrir, irei morrer. Preciso de segredo, de um asilo e de água.





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