Oh! Água! - repetiu com voz rouca.
- Quem é? - perguntou o general, admirado da volubilidade febril com que o desconhecido falava.
- Ah!, quem sou? Pois bem, abra, que me afasto - replicou o homem com infernal ironia.
Não obstante o cuidado com que o marquês fazia incidir a luz da lanterna sobre o estranho, apenas podia- lhe ver a parte inferior do rosto, que não era de molde a falar em favor de uma hospitalidade tão singularmente reclamada: tinha as faces trêmulas, lívidas, e as feições horrivelmente contraídas. Na sombra projetada pela aba do chapéu, os olhos desenhavam-se como duas luzes que faziam quase empalidecer a fraca claridade da vela. Entretanto, era preciso dar uma resposta.
- Senhor - disse o general -, a sua linguagem é tão extraordinária, que no seu lugar...
- Dispõe da minha vida! - exclamou o estrangeiro com uma voz terrível, interrompendo o general.
- Duas horas? - tornou este, irresoluto.
- Duas horas - repetiu o homem.
Mas, subitamente, tirou o chapéu com um gesto de desespero, descobriu a fronte e lançou, como se quisesse fazer uma derradeira tentativa, um olhar, cuja viva claridade penetrou até ao íntimo da alma do general. Este jato de inteligência e de vontade semelhou se a um relâmpago, e foi tão esmagador como o raio; porque há momentos em que os homens parecem in vestidos de um poder inexplicável.
- Pois bem! Quem quer que seja, estará em segurança em minha casa - tornou gravemente o mar quês, que julgou obedecer a um desses movimentos instintivos, que nem sempre se podem explicar.
- Que Deus o recompense - acrescentou o desconhecido, soltando um profundo suspiro.
- Está armado? - perguntou o general.
Por única resposta, o desconhecido abriu e fechou num momento a capa. Não tinha