A Mulher de Trinta Anos - Cap. 5: Os dois encontros Pág. 149 / 205

armas aparentes e estava em roupa de baile; mas, por muito rápido que fosse o exame do desconfiado militar, viu o necessário para exclamar:

- Onde diabos se enlameou dessa maneira com um tempo tão seco?

- Mais perguntas! - replicou o desconhecido com altivez.

Neste momento, o marquês viu o filho, e lembrou- se da lição que acabava de lhe dar sobre o estrito cumprimento da palavra dada; ficou tão vivamente contrariado com essa circunstância que lhe disse, sem poder dominar a cólera:

- Como, pois você ainda se encontra aqui, em vez de estar na cama?

- Pensei poder ser-lhe útil no perigo - respondeu Gustavo.

- Vamos, vá para o seu quarto - tornou o pai, satisfeito com a resposta do filho. - E o senhor - acrescentou dirigindo-se ao desconhecido -, siga-me.

Tornaram-se silenciosos como dois jogadores desconfiados um do outro. O general começou mesmo a conceber sinistros pressentimentos. O desconhecido sufocava-lhe já o coração como um pesadelo; porém, dominado pela fé do juramento, conduziu-o pelo corredor e pelas escadas da sua residência, fazendo-o entrar, por fim, num grande quarto situado no segundo andar, precisa mente por cima do salão. Esse aposento desabitado ser via para enxugar roupa no inverno, não comunicava com nenhum outro e, como ornamento, só possuía nas suas quatro paredes amareladas um péssimo espelho deixado por cima da lareira pelo antigo proprietário, e um outro maior que o marquês mandara colocar ali em frente da lareira, não tendo outro lugar. O soalho dessa vasta mansarda nunca tinha sido varrido, o frio era ali glacial e o mobiliário compunha-se apenas de duas cadeiras velhas. Depois de ter colocado a lanterna sobre o aparador, o general disse ao desconhecido:

- Sua segurança exige que esta triste mansarda lhe sirva de asilo.





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