E, como tem a minha palavra com respeito ao segredo, há de me permitir que o feche aqui.
O homem curvou a fronte em sinal de adesão.
- Apenas pedi um abrigo, segredo e água - observou ele.
- Vou já trazer-lhe - replicou o marquês, que fechou a porta com cuidado e desceu às apalpadelas ao salão, onde ia buscar luz para procurar uma garrafa com água na copa.
- Então, senhor, que aconteceu? - perguntou a marquesa ao marido.
- Nada, minha querida - respondeu o general com frieza.
- Contudo, nós o ouvimos levar alguém lá para cima...
- Helena - tornou o general, olhando para a filha, que se voltou para ele -, lembre-se de que a honra de seu pai repousa na sua discrição. Você deve fazer de conta que nada ouviu.
A jovem respondeu por um movimento de cabeça significativo. A marquesa ficou interdita e intimamente ofendida com a maneira empregada pelo marido para lhe impor silêncio. general foi buscar uma garrafa e um copo e voltou ao quarto onde estava o prisioneiro: encontrou-o de pé, encostado à parede, junto da lareira, sem chapéu; tinha-o atirado para cima de uma das cadeiras. O desconhecido não esperava certamente ver tanta claridade. Franziu a testa, e seu rosto tornou-se sombrio quando encontrou o olhar perscrutador do general; porém depressa recuperou a serenidade, e foi com uma fisionomia delicada que agradeceu ao seu protetor. Quando este último colocou o copo e a garrafa sobre o aparador da lareira, o desconhecido, após ter-lhe lançado seu olhar flamejante, rompeu o silêncio:
- Senhor - disse com uma voz suave que já não mais apresentava convulsões guturais, mas que, não obstante, acusava ainda um tremor interno -, vou lhe parecer esquisito. Desculpe-me os caprichos necessários. Se o senhor permanecer aqui, peço que não me olhe quando eu beber.