A Mulher de Trinta Anos - Cap. 5: Os dois encontros Pág. 177 / 205

seu formoso rosto, tornando-o moreno, de uma cor maravilhosa que lhe dava uma expressão poética; e notava-se nela um ar de grandeza, uma firmeza majestosa, um sentimento profundo, ante o qual a alma, por mais grosseira, devia ficar impressionada. Seus cabelos, compridos e abundantes, caíam em anéis sobre o pescoço cheio de nobreza, ajuntando ainda uma imagem de força à altivez daquele rosto. Na sua atitude, nos seus gestos, Helena deixava perceber a consciência que tinha do seu poder. Uma triunfal satisfação brilhava nos seus lindos olhos, e a sua tranqüila felicidade estava assinalada em todos os traços da sua beleza. Havia nela a suavidade da virgem, ao mesmo tempo que essa espécie de orgulho peculiar às mulheres bem- amadas. Escrava e soberana, queria obedecer porque podia reinar. Estava vestida com uma magnificência cheia de encanto e elegância. Sua toilette era de musselina das índias; mas o divã e as almofadas eram de cachemira, um tapete da Pérsia guarnecia o soalho da vasta cabine, e seus quatro filhos brincavam a seus pés, construindo seus castelos extravagantes com colares de pérolas, jóias preciosas, objetos de valor. Algumas jarras de porcelana de Sèvres, pintadas pela senhora Jaquotot, continham flores raras que perfumavam o ar: eram jasmins do México, camélias, entre as quais voltejavam uns passarinhos da América, que faziam o efeito de safiras, de rubis, de ouro animado. Havia ali um piano, e nas paredes de madeira, forradas de seda amarela, viam-se espalhados quadros de pequenas dimensões, mas devidos aos melhores Pintores: um pôr-do-sol de Gudin achava-se ao lado de um Terburg; uma Virgem de Rafael rivalizava em poesia com um esboço de Girodet; um Gerard Dow eclipsava um Drolling. Sobre uma mesa de charão, estava um prato de ouro, com deliciosos frutos.




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