Enfim, Helena parecia ser a rainha de um vasto país no meio do toucador em que o seu coroado amante houvesse reunido as coisas mais elegantes da terra. As crianças fitavam no avô olhares de penetrante vivacidade; e, habituadas como estavam a viver no meio de combates, de tempestades e de tu multo, assemelhavam-se a esses pequenos romanos curiosos de guerra e de sangue que David pintou no seu quadro de Brutus.
Como isto é possível? exclamou Helena, apertando o pai como para se assegurar da realidade daquela visão.
Helena!
- Meu pai!
Caíram nos braços um do outro, beijando-se afetuosamente.
Estava naquele navio?
Sim - tornou ele tristemente, sentando-se no divã e olhando para as crianças que, rodeando-o, examinavam com inocente atenção. Ia morrer se não fosse...
- Meu marido disse Helena interrompendo..-, adivinho.
- Ah! exclamou o general para que havia de lhe encontrar assim, minha Helena, você, por quem tanto tenho chorado, para ficar ainda mais desesperado pelo seu destino?
- Por quê? perguntou Helena sorrindo. - Não gostará de saber que sou a mais feliz das mulheres?
- Feliz! - exclamou o pai, dando um salto de surpresa.
- Sim, meu bom pai - tornou Helena apoderando-se das suas mãos, beijando-as, apertando-as contra o seio palpitante e juntando a essa carícia um meneio de cabeça que seus olhos brilhantes de prazer tornavam ainda mais significativo.
- Como assim? - perguntou o general, curioso de saber da vida da filha e tudo esquecendo diante daquela fisionomia resplandecente.
- Ouça, meu pai - respondeu Helena -, tenho por amante, por esposo, por servo, por senhor, um homem cuja alma é tão vasta como este mar sem limites, tão fértil em doçura como o céu, um deus, enfim! Durante sete anos jamais lhe escapou uma palavra, um sentimento, um gesto que pudessem produzir uma dissonância com a divina harmonia das suas palavras, da suas carícias e do seu amor.