A Mulher de Trinta Anos - Cap. 5: Os dois encontros Pág. 180 / 205

- Mas você gostava de festas, de bailes, de música!

- A música é a sua voz; as minhas festas são os enfeites que invento para lhe parecer bem. Quando uma toilette lhe agrada, não é como se o mundo inteiro me admirasse? Eis o motivo por que não lanço ao mar estes diamantes, estes colares, estes diademas de pedrarias, estas riquezas, estas flores, estas obras-primas da arte que me prodigaliza dizendo-me: “Helena, visto que não quer viver no mundo, quero que ele venha ter com você”.

- Mas neste navio há homens, homens audaciosos, terríveis, cujas paixões...

- Compreendo-o, meu pai - replicou sorrindo.

- Tranqüilize-se. Jamais imperatriz alguma foi cercada de tanto respeito e consideração como me são prodigalizados. Esta gente é supersticiosa; julgam-me o gênio tutelar deste navio, das suas empresas, dos seus êxitos. Mas é ele o seu deus! Um dia, uma única vez, um marinheiro faltou-me ao respeito... em palavras - acrescentou ela rindo. - Antes que Victor o soubesse, a tripulação lançou-o ao mar, não obstante o perdão que lhe concedi. Amam-me como o seu anjo bom, trato-os nas suas enfermidades e tenho tido a felicidade de salvar alguns da morte, velando-os com uma perseverança de mulher. Estas pobres criaturas são ao mesmo tempo gigantes e crianças.

- E quando há combates?

- Já estou habituada. Só tremi ao primeiro. Agora a minha alma se acostumou ao perigo, e além disso... sou sua filha e amo Victor.

- E se ele morresse?

- Morreria também.

- E seus filhos?

- São filhos do oceano e do perigo, partilham a vida dos pais... Nossa existência é una e não se divide. Vivemos todos da mesma vida, todos inscritos na mesma página, levados no mesmo esquife, bem o sabemos.

- Você o ama a ponto de o preferir a tudo?

- A tudo - repetiu Helena.





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