- Mas não sonde mos este mistério. Olhe essa querida criança. Pois bem! E também ele!
Em seguida, abraçando Abel com um vigor extraordinário, beijou-o apaixonadamente nas faces, nos cabelos...
- Mas - exclamou o general -, não poderei esquecer que acaba de lançar nove pessoas ao mar.
- E porque assim foi preciso - respondeu Helena -, porque ele é humano e generoso. Derrama sangue o menos possível para a conservação e o interesse do pequeno mundo que protege e da causa sagrada que defende. Fale-lhe a esse respeito, e verá que ele há de conseguir que mude de parecer.
- E o seu crime? - perguntou o general, como se falasse consigo mesmo.
- Mas - tornou Helena com fria dignidade -, se fosse antes uma virtude? Se a justiça dos homens não tivesse podido vingá-lo?
- Vingar-se por suas próprias mãos? - admirou- se o general.
- E o que é o inferno - perguntou Helena -, senão uma vingança eterna por algumas faltas de um dia?
- Ah! Você está perdida. Esse homem enfeitiçou lhe, perverteu-lhe. Treslouca.
- Fique aqui um dia, meu pai, e se quiser escutá-lo e vê-lo, há de gostar dele.
- Helena - tornou gravemente o general -, nós estamos a algumas léguas da França...
Ela estremeceu, olhou para o mar soberbo e majestoso, e respondeu, batendo com a ponta do pé no tapete.
- E este o meu país.
- Mas não irá ver sua mãe, sua irmã, seus irmãos?
- Oh, sim - disse em voz comovida -, se ele quiser e puder acompanhar-me.
- Então você não tem mais nada, Helena - tornou o general com severidade -, nem pátria, nem família?
- Sou sua mulher - replicou Helena com altivez. - Há sete anos, é esta a primeira felicidade que não me vem dele - acrescentou, pegando na mão do pai e beijando-a -, e também a primeira censura que ouço.
- E a sua consciência?
- A minha consciência! Mas é ele.