Ainda que a senhora d’Aiglemont usasse um chapéu moderno, era fácil ver que seus cabelos haviam embranquecido, devido a comoções cruéis; mas a maneira como os usava, separados ao meio, traía seu bom-gosto, revelava seus graciosos hábitos de mulher elegante e desenhava perfeitamente sua fronte envelhecida, enrugada, na qual se encontravam ainda assim vestígios do seu antigo brilho. A forma do rosto, a regularidade das feições davam uma idéia, fraca na verdade, da beleza de que fora, por certo, orgulhosa; porém esses indícios acusavam ainda mais as dores que deviam ter sido agudíssimas, para encovar-lhe o rosto, dessecar as têmporas, reentrar as faces, macerar as pálpebras e desguarnecer de cílios o olhar grácil. Tudo era silencioso naquela mulher: o andar e os movimentos tinham esse sossego grave e recolhido que imprime o respeito. Sua modéstia, transmudada em timidez, parecia ser o resultado do hábito, que tomara havia alguns anos, de se eclipsar na presença da filha; suas palavras eram raras, suaves, como as de todas as pessoas habituadas a refletir, a concentrar-se, a viver consigo mesmas.