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Capítulo 6: A velhice de uma mãe culpada

Página 197
Essa atitude e essa contenção inspiravam um sentimento indefinível, que não era nem temor nem compaixão, mas em que se fundavam misteriosamente todas as idéias que despertam essas diversas afeições. Enfim, a natureza das rugas, a maneira como seu rosto estava engelhado, a lividez do seu olhar dolorido, tudo eloqüentemente testemunhava essas lágrimas que, devoradas pelo coração, não caem nunca na terra. Os infelizes acostumados a contemplar o céu para o tomarem como testemunha das mazelas da sua vida teriam reconhecido facilmente nos olhos dessa mãe o hábito cruel de uma oração feita a cada momento do dia e os vestígios desses golpes secretos que acabam por destruir as flores d’alma e até o sentimento da maternidade. Os pintores têm cores para esses retratos, porém as idéias e as palavras são impotentes para traduzi-los fielmente. Encontram-se nos tons da tez, na impressão do rosto, fenômenos inexplicáveis que a alma percebe pela vista, mas a narrativa dos fatos a que são de vidas essas tão terríveis alterações fisionômicas é o único recurso que resta ao poeta para fazer compreendê-las. O rosto da marquesa anunciava uma tempestade cal ma e fria, um combate secreto entre o heroísmo da dor materna e a enfermidade dos nossos sentimentos, que são finitos como nós mesmos e onde nada se encontra de infinito. Esses sofrimentos incessantemente recalcados haviam produzido, por fim, um não sei quê de mórbido naquela mulher. Sem dúvida, algumas emoções por demais violentas tinham alterado fisicamente aquele coração materno e alguma doença, um aneurisma talvez, ameaçava lentamente Júlia, sem que ela o soubesse. As verdadeiras penas são, na aparência, tão tranqüilas no seu leito profundo, onde parecem dormir, mas onde continuam a corroer a alma,

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pág. 197 (Capítulo 6)

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Capa do livro A Mulher de Trinta Anos
Páginas: 205
Página atual: 197

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Primeiros erros 1
Sofrimentos desconhecidos 75
Aos trinta anos 98
O dedo de Deus 123
Os dois encontros 138
A velhice de uma mãe culpada 190