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Capítulo 6: A velhice de uma mãe culpada

Página 195
Murillo pintou a dor materna, ou pelo rosto de Beatriz Cenci, no qual Guido soube representar a mais tocante inocência no fundo do mais horrível cri me, ou pela face sombria de Filipe II, na qual Velásquez imprimiu para sempre o terror majestoso que deve inspirar a realeza. Certos rostos humanos são imagens despóticas que nos falam, interrogam, respondem aos nossos secretos pensamentos e fazem até poemas completos. O rosto glacial da senhora d’Aiglemont era uma dessas terríveis poesias, uma dessas faces disseminadas, aos milhares, na Divina Comédia, de Dante Alighieri.

Durante a rápida estação em que a mulher permanece em flor, os caracteres da sua beleza servem admiravelmente bem à dissimulação à qual a sua fraqueza natural e as leis sociais a condenam. Sob o rico colorido do seu viçoso rosto, sob o fogo dos seus olhos, sob a fina textura das suas feições tão delicadas, com tantas linhas curvas ou retas, mas puras e perfeitamente determinadas, todas as suas comoções podem permanecer secretas: o rubor então nada revela, aumentando ainda mais cores já tão vivas; todos os focos interiores concordam tão bem com a luz desses olhos brilhantes de vida que a fugaz chama de um sofrimento aparece apenas como um encanto a mais. Por isso, na da há mais discreto do que um rosto juvenil, porque também não há nada mais imóvel. A fisionomia de uma jovem tem a serenidade, o polido, o frescor da superfície de um lago; a das mulheres só se revela aos trinta anos. Até essa idade, o pintor só lhes acha no rosto róseos e brancos sorrisos e expressões que repetem um mesmo pensamento, pensamento de mocidade e de amor, pensamento uniforme e sem profundidade; mas, na velhice, tudo na mulher fala, as paixões incrustaram-se-lhe no rosto; foi amante, esposa,

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pág. 195 (Capítulo 6)

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Capa do livro A Mulher de Trinta Anos
Páginas: 205
Página atual: 195

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Primeiros erros 1
Sofrimentos desconhecidos 75
Aos trinta anos 98
O dedo de Deus 123
Os dois encontros 138
A velhice de uma mãe culpada 190