A Mulher de Trinta Anos - Cap. 1: Primeiros erros Pág. 32 / 205

Minha alma acha-se oprimida por uma indefinível apreensão que paralisa meus sentimentos e me lança num torpor contínuo. Sinto me sem voz para queixar-me, sem palavras para exprimir minha dor. Sofro e tenho vergonha de sofrer, vendo Victor feliz com o que me mata.

- Tudo isso são criancices, insignificantes! - exclamou a tia, cujo rosto emagrecido animou-se de repente por um alegre sorriso, reflexo das alegrias da sua mocidade.

- E a senhora também se ri! - disse com desespero a condessa.

- Fui assim mesmo - replicou prontamente a marquesa. - Agora que Victor a deixou só, não se sente melhor e mais tranqüila; sem prazeres, mas sem sofrimentos?

Júlia abriu os olhos espantados.

- Enfim, meu anjo, adora Victor, não é assim? Mas preferiria ser sua irmã a ser sua mulher, e não se dá bem com o casamento.

- E isso mesmo, minha tia. Mas por que sorri?

- Oh!, tem razão, pobre criança; não há nada de alegre em tudo isto. O seu futuro seria bem negro se eu não a tomasse sob minha proteção e se a minha velha experiência não soubesse adivinhar a causa bem inocente dos seus desgostos. Meu sobrinho não merecia ser tão feliz, o tolo! No reinado do nosso bem-amado Luís XV, uma jovem esposa que se encontrasse na situação em que a vejo depressa teria castigado o marido por proceder como um reles mercenário. Os militares às ordens desse tirano imperial são todos uns vis ignorantes. Tomam a brutalidade por galanteria, conhecem tanto as mulheres como sabem amá-las; julgam que, por terem de ir ao encontro da morte no dia seguinte, estão dispensados de terem, na véspera, cuidados e atenções conosco. Noutros tempos sabia-se tão bem amar como morrer com propósito. Minha querida sobrinha, hei de ensiná-lo a você. Porei termo ao triste desacordo, bastante natural, que os levaria a odiarem-se mutuamente, a desejarem o divórcio, caso não morresse antes de ser dominada pelo desespero.





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