..
Já não tem mãe? - perguntou a marquesa.
A condessa estremeceu, depois ergueu docemente a cabeça e disse:
- Tenho lamentado mais de uma vez a sua falta, de um ano para cá. Mas fiz mal em não seguir os conselhos de meu pai, que não queria Victor para genro.
Olhou para a tia, e um frêmito de alegria lhe secou as lágrimas quando viu o ar de bondade que animava aquele velho rosto. Estendeu a mão à marquesa, que parecia pedir-lhe; e, quando seus dedos se estreitaram, as duas mulheres acabaram por se compreender.
- Pobre órfã! - acrescentou a marquesa.
Essas palavras foram para Júlia um último raio de luz. Pareceu-lhe ouvir ainda a voz profética do pai.
- As suas mãos ardem! Estão sempre assim? - perguntou a bondosa velha.
- Há apenas sete ou oito dias que a febre me deixou - respondeu Júlia.
- Tinha febre e nada me dizia!
- Há um ano que a tenho - disse Júlia com certa ansiedade pudica.
- Assim, meu anjinho - tornou a tia -, o casamento não tem sido para você mais que um longo sofrimento?
A condessa não ousou responder; mas fez um gesto afirmativo que traía todas as suas angústias.
- E infeliz, então?
- Oh!, não, minha tia. Victor me ama com idolatria, e eu o adoro; ele é tão bom!
- Sim, ama-o; mas foge dele, não é verdade?
- Sim... Algumas vezes. Ele me procura constantemente.
- Quando se vê sozinha, não lhe perturba a idéia de que ele a surpreenda?
- É verdade, minha tia. Mas amo-o muitíssimo, asseguro-lhe.
- Não se acusa, em segredo, de não saber ou não poder partilhar os seus prazeres? Não lhe acode, por vezes, a idéia de que o amor legítimo é mais difícil de ser vivido do que uma paixão criminosa?
- Oh! E isso mesmo - disse Júlia chorando. - Adivinha, pois, tudo onde só encontro enigmas? Os meus sentidos estão adormecidos, não tenho idéias; em suma, vivo dificilmente.