A Mulher de Trinta Anos - Cap. 1: Primeiros erros Pág. 59 / 205

Seu instinto de mulher a fazia sentir que naquela hora perigosa devia ocultar seu amor no fundo do coração. Contudo, o silêncio podia ser igualmente temível. Notando que lorde Grenvilie estava incapaz de pronunciar uma palavra, prosseguiu :

Talvez essa viva expansão seja a maneira como uma alma boa e delicada como a sua se arrepende de ter feito juízo temerário. Ter-me-á julgado ingrata, encontrando me fria e reservada ou zombeteira e insensível durante esta viagem que felizmente está prestes a terminar. Eu não seria digna de receber seus cuidados, se não tivesse sabido apreciá-los. Nada esqueci, milorde. Ai de mim!, nada esquecerei, nem a solicitude que o fazia velar por a delicadeza do seu procedimento; seduções contra as quais nos achamos todas sem defesa. Milorde, não está no meu poder recompensá-lo...

E, dizendo isto, Júlia afastou-se precipitadamente, e lorde Grenville não procurou sequer detê-la; a marquesa parou junto de um rochedo pouco distante, onde se conservou imóvel; suas emoções foram segredo para eles próprios. Sem dúvida, choraram em silêncio; os cantos dos pássaros, tão alegres, tão pródigos de expressões ternas, ao pôr-do-sol, aumentaram decerto a violenta emoção que os forçou a separarem-se; a natureza encarregava-se de lhes exprimir um amor de que não ousavam falar.

- Pois bem, milorde - disse Júlia, acercando-se novamente de Artur, numa atitude cheia de dignidade que lhe permitiu pegar-lhe na mão -, irei pedir- lhe que torne pura e santa a vida que me restituiu. Separamo-nos aqui. Sei - acrescentou ela vendo empalidecer lorde Grenvilie - que, como preço da sua dedicação, vou exigir-lhe um sacrifício ainda maior do que aqueles cuja extensão eu devia reconhecer melhor... Mas assim é preciso... Não permanecerá na França.





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