Capítulo 1: Primeiros erros
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Agradecimento, era o primeiro que Júlia lhe dirigia desde sua partida de Paris. Durante um ano inteiro, tratara ele da marquesa com a mais completa dedicação. Auxiliado por d’Aiglemont, levara-a às águas de Aix, depois para as praias da Rochelie. Observando a cada momento as mudanças que suas sábias e simples prescrições produziam na constituição arruinada de Júlia, cultivara-a como pode fazer com uma flor rara um jardineiro apaixonado. A marquesa parecera aceitar os cuidados inteligentes de Artur, com todo o egoísmo de uma parisiense habituada às homenagens, ou com a indiferença de uma cortesã que não sabe o custo das coisas nem o valor dos homens e os avalia segundo o grau de utilidade que têm para ela. A influência exercida sobre a alma pelos lugares é uma coisa digna de notar. Se infalivelmente a melancolia se apodera de nós quando nos achamos à beira-mar, uma outra lei de nossa impressionável natureza faz que os nossos sentimentos se purifiquem nas montanhas; a paixão ganha aí em profundidade o que perde em vivacidade. O aspecto da vasta bacia do Loire, a elevação da linda colina, onde os dois amantes estavam sentados, causavam talvez a deliciosa serenidade em que primeiro saboreavam a felicidade, que se goza adivinhando a grandeza de uma paixão oculta sob palavras insignificantes na aparência. No momento em que Júlia concluía a frase que tão vivamente havia comovido lorde Grenville, uma brisa ciciante agitou a copa das árvores, espalhou pelo ar o frescor das águas; algumas nuvens encobriram o sol, deixando ver todas as belezas daquela encantadora natureza. Júlia voltou a cabeça para que o jovem lorde não lhe visse as lágrimas, porque estava tão comovida como ele. Não ousou erguer os olhos para Artur com receio de que ele lesse a imensa alegria daquele olhar.
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Páginas: 205
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