A Mulher de Trinta Anos - Cap. 1: Primeiros erros Pág. 61 / 205

- Não devo queixar-me; a desgraça da minha vida foi obra minha - acrescentou a jovem marquesa, erguendo para o céu os olhos cheios de lágrimas.

- Milorde - interveio o general do seu posto, apontando com a mão -, foi aqui que nos encontramos pela primeira vez. Talvez já não se lembre! Olhe ali embaixo, junto daqueles choupos.

O inglês respondeu com uma rápida inclinação de ombros.

Eu devia morrer nova e infeliz - replicou Júlia. - Sim, não creia que eu viva. O desgosto será tão mortal como poderia ser a terrível doença de que me curou. Não me julgo culpada. Não, os sentimentos que engendrei por você são irresistíveis, eternos, mas bem involuntários, e eu quero conservar-me virtuosa. Contudo, serei ao mesmo tempo fiel à minha consciência de esposa, aos meus deveres de mãe e aos votos do meu coração. Ouça - acrescentou com a voz alterada -, nunca mais pertencerei àquele homem, nunca. - E com um gesto pavoroso de horror e de verdade designou o marido. - As leis do mundo - prosseguiu ela - exigem que lhe torne a existência feliz; obedecerei, serei sua serva, a minha dedicação a ele será sem limites, mas de hoje em diante serei viúva. Não quero me prostituir aos meus olhos nem aos do mundo; não serei do senhor d’Aiglemont nem de nenhum outro. Nada conseguirá de mim, milorde. Eis a sentença que proferi contra mim mesma - disse Júlia, fitando Artur com altivez. - É irrevogável, milorde. Deixe-me ainda dizer-lhe que, se o senhor cedesse a um pensamento criminoso, a viúva do senhor d’Aiglemont entraria para um convento, ou na Itália ou na Espanha. Quis a fatalidade que falássemos do nosso amor. Esta confissão era talvez inevitável; mas que seja pela derradeira vez que os nossos corações tenham vibrado tão fortemente. Amanhã fingirá ter recebido uma carta chamando-o à Inglaterra, e nos separaremos para sempre.





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