A Mulher de Trinta Anos - Cap. 2: Sofrimentos desconhecidos Pág. 77 / 205

por saber a verdade, pensaram interrogar os criados do castelo; mas nenhum deles pôde elucidá-los sobre a catástrofe que levava sua patroa, no começo do inverno, para o velho castelo de Saint-Lange, quando possuía outras famosas pelo seu aspecto risonho e pela beleza dos seus jardins. O prefeito foi apresentar suas homenagens à marquesa, mas não foi recebido. Depois apresentou-se o administrador, sem melhor resultado.

A senhora marquesa só abandonava seu quarto quando a criada o arrumava, e durante esse tempo ficava numa salinha contígua, onde jantava, isto é, sentava-se à mesa, olhava para as iguarias com enjôo e só comia a quantidade necessária para não morrer de fome. Depois, voltava a sentar-se na antiga poltrona, onde, logo de manhã, se recostava junto da única janela que clareava o quarto. Apenas via a filha durante os poucos instantes que empregava na sua triste refeição, e ainda assim a sua presença não parecia agradar-lhe. Só aflições inauditas poderiam emudecer numa mulher tão nova o sentimento maternal. Nenhum dos criados podia penetrar nos seus aposentos. A criada de quarto era a única cujos serviços a satisfaziam. Exigia um silêncio absoluto no castelo, e a filha teve de ir brincar para longe. Era-lhe tão difícil suportar o mínimo ruído que até a voz da criancinha a incomodava. A gente da terra muito se ocupou com essas singularidades; depois, quando se esgotaram todas as suposições possíveis, ninguém mais pensou nessa mulher doente.

A marquesa, entregue a si mesma, pôde, portanto, conservar-se perfeitamente silenciosa em meio ao silêncio que estabelecera em volta de si, e não teve nenhuma ocasião para deixar o quarto forrado de tapeçarias, onde falecera sua avó, e onde esperava também morrer serenamente, sem testemunhas, sem importunos, sem sofrer as falsas demonstrações dos egoísmos mascarados de afeição que, nas cidades, fazem os moribundos sofrerem uma dupla agonia.





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