A senhora marquesa só abandonava seu quarto quando a criada o arrumava, e durante esse tempo ficava numa salinha contígua, onde jantava, isto é, sentava-se à mesa, olhava para as iguarias com enjôo e só comia a quantidade necessária para não morrer de fome. Depois, voltava a sentar-se na antiga poltrona, onde, logo de manhã, se recostava junto da única janela que clareava o quarto. Apenas via a filha durante os poucos instantes que empregava na sua triste refeição, e ainda assim a sua presença não parecia agradar-lhe. Só aflições inauditas poderiam emudecer numa mulher tão nova o sentimento maternal. Nenhum dos criados podia penetrar nos seus aposentos. A criada de quarto era a única cujos serviços a satisfaziam. Exigia um silêncio absoluto no castelo, e a filha teve de ir brincar para longe. Era-lhe tão difícil suportar o mínimo ruído que até a voz da criancinha a incomodava. A gente da terra muito se ocupou com essas singularidades; depois, quando se esgotaram todas as suposições possíveis, ninguém mais pensou nessa mulher doente.
A marquesa, entregue a si mesma, pôde, portanto, conservar-se perfeitamente silenciosa em meio ao silêncio que estabelecera em volta de si, e não teve nenhuma ocasião para deixar o quarto forrado de tapeçarias, onde falecera sua avó, e onde esperava também morrer serenamente, sem testemunhas, sem importunos, sem sofrer as falsas demonstrações dos egoísmos mascarados de afeição que, nas cidades, fazem os moribundos sofrerem uma dupla agonia.