- Senhora marquesa, os ricos só nos pertencem quando sofrem; e os sofrimentos de uma senhora casada, jovem, bela, rica, que não perdeu filhos nem pais, adivinham-se e são causados por feridas que só a religião pode cicatrizar. Sua alma está em perigo, senhora marquesa. Não me refiro neste momento à outra vida que nos espera! Não, eu não estou no confessionário. Mas não é meu dever esclarecê-la sobre o futuro da sua existência social? Perdoará, portanto, a um velho uma importunidade, cujo fim é a sua felicidade, senhora marquesa.
- A felicidade, senhor, deixou de existir para mim. Eu lhe pertencerei muito breve, como disse, mas para sempre.
- Não, senhora marquesa, não há de morrer do desgosto que a oprime e se estampa no seu rosto. Se tivesse de morrer, não estaria em Saint-Lange. As desilusões matam mais que o sofrimento. Conheci dores bem mais intoleráveis e profundas que não causaram a morte.