— Diz-me, truão moderno e malhadeiro antigo: parece-te bem desconsiderar e afrontar uma dona tão veneranda e digna de respeito, como aquela? era ocasião de te recordares do ruço, ou são senhores estes que deixem passar mal as bestas, quando tratam tão bem os donos? Por Deus, Sancho, reporta-te e não descubras o fio, de forma que venha a perceber-se que és feito de pano grosseiro e vilão. Vê, pecador, que o amo é tido em conta tão maior, quanto melhores e mais bem nascidos são os criados que tem: que uma das maiores vantagens que levam os príncipes aos outros homens, é servirem-se de criados que são tão bons como eles. Não reparas, desgraçado, que se virem que és um vilão grosseiro, ou um mentecapto divertido, pensarão que eu sou algum ichacorvos ou algum cavaleiro de empréstimo? Não, não, Sancho amigo, foge, foge destes inconvenientes, que quem tropeça em falador e gracioso, ao primeiro pontapé cai e dá em truão desengraçado; refreia a língua, considera e rumina as palavras, antes de te saírem da boca, e vê que chegamos a sítio donde, com o favor de Deus e o valor do meu braço, havemos de sair melhorados em fama e em fazenda.