de se escapar, pela sua ligeireza; mas deu-se mal com isso, porque a galé capitania era dos baixéis mais ligeiros que no mar navegavam; e assim, foi entrando com ele, de modo que os do bergantim claramente perceberam que se não podiam escapar, e o arrais queria que deixassem os remos e se entregassem, para não irritar o capitão-mor das galés; mas a sorte, que outra coisa determinara, fez com que, no momento em que chegava a capitania, tão perto, que podiam os do baixel ouvir as vozes que lhes diziam que se rendessem, dois toraquis, ou dois turcos bêbedos, que vinham no bergantim com mais doze, disparassem as escopetas e matassem dois soldados, que estavam nas gáveas. Vendo isto, o capitão-mor jurou não deixar com vida nem um só de todos os que apanhasse no baixel e, investindo-o com fúria, escapou-se-lhe ele por debaixo dos remos. Passou a galé adiante um bom pedaço: os do baixel viram-se perdidos; fizeram-se à vela, enquanto a galé voltava, e de novo, à vela e a remo, se puseram em fuga; mas não lhes aproveitou a sua diligência, tanto como os prejudicou o seu atrevimento, porque, alcançando-os a galé a pouco mais de meia milha, deitou-lhe os arpéus e apanhou-os vivos a todos. Nisto, chegaram as outras duas galés, e todas com a presa, voltaram à praia, onde infinita gente as estava esperando, desejosa de ver o que traziam.
Deu fundo o capitão-mor perto da terra e percebeu que estava no cais o vice-rei da cidade. Mandou deitar o escaler ao mar, para o ir receber, e mandou amainar a verga grande, para enforcar imediatamente o arrais e os outros turcos, que apanhara no baixel e que seriam uns trinta e seis, pouco mais ou menos, todos galhardos, e a maior parte deles arcabuzeiros. Perguntou o capitão-mor quem era o arrais do bergantim, e respondeu-lhe, em língua castelhana, um dos cativos, que depois se soube que era renegado espanhol:
— Este mancebo que aqui vês, senhor, é o nosso arrais.