As virtudes dos Utopianos fazem que os povos vizinhos, que vivem em liberdade, pois que há muito os Utopianos os libertaram da tirania, vão pedir à Utopia magistrados por um ano, ou mesmo por cinco anos. Quando o tempo de magistratura termina, reconduzem-nos à pátria, com as honras devidas, e regressam ao seu país com outros para os substituir. Estes povos procedem, sem dúvida alguma, da maneira mais sensata e aconselhável, para a sua nação. Pois, sabendo que a salvação ou a desgraça do bem comum depende dos costumes e da vida dos governantes e magistrados, sabem também que não escolheriam melhores chefes que os Utopianos, que não se deixarão corromper com subornos, porque dentro em pouco, no seu regresso à pátria, o dinheiro deixará de ter para eles qualquer utilidade, nem agirão movidos pela aversão ou pelo afecto, pois, sendo estrangeiros, não conhecem aqueles que governam. Estes dois defeitos, a cobiça e os afectos pessoais, quando influem nos juízos, lesam imediatamente a justiça, que é o mais firme e seguro esteio de um Estado.