De facto, agem como tal. Os cidadãos prestam-lhes as devidas homenagens, espontaneamente, sem qualquer coacção.
O próprio príncipe não se distingue dos outros cidadãos por vestuário principesco, nem por coroa, diadema real ou manto, mas por um pequeno feixe de trigo que leva consigo. As insígnias do bispo limitam-se a um pequeno círio que ostenta e pelo qual os fiéis o reconhecem.
Possuem apenas um número muito restrito de leis, pois, para um povo tão instruído como os Utopianos, e com tais instituições, poucas leis são necessárias. Desaprovam principalmente nos outros povos o número interminável de leis e comentários sobre as mesmas e que esses povos consideram ainda insuficientes. Têm como suprema injustiça que se obrigue um homem a obedecer a leis que não consegue conhecer, pois são inúmeras e tão obscuras que ninguém as pode compreender com exactidão.
Excluem ainda mais rigorosamente os advogados, procuradores e solicitadores, que manejam habilmente os processos e discutem astuciosamente as leis. Pensam ser mais acertado que cada um defenda a sua própria causa e confesse directamente ao juiz o mesmo que contaria ao advogado. Deste modo haverá menos ambiguidade e a verdade descobrir-se-á mais facilmente, pois o juiz pesará e examinará com bom senso as razões de cada um, a quem nenhum advogado instruiu com impostura, defendendo os espíritos ingénuos e simples contra as calúnias maliciosas dos malabaristas de palavras.
É difícil observar estes princípios em países com um número infinito de leis intrincadas e equívocas. Na Utopia, no entanto, todos são advogados hábeis, pois é pequeno o número de leis que os regem e a sua interpretação mais simples e vulgar é considerada a mais justa. Pois todas estas leis, dizem os Utopianos,