A Utopia - Cap. 3: Capítulo 3 Pág. 108 / 133

menores, embora de vulto, pela cabeça daqueles cujo nome a proclamação contém. Consideram esses indivíduos os seus principais adversários, logo a seguir ao rei.

A recompensa pela morte de um dos visados é duplicada quando esse indivíduo for entregue vivo. Àqueles que fazem parte da lista, no caso de mudarem de opinião e tomarem o seu partido, prometem igual recompensa, o perdão e a liberdade. Assim, rapidamente, os inimigos começam a suspeitar de tudo e de todos, a deixar de ter confiança uns nos outros, vivendo num receio permanente e num perigo contínuo. Pois é bem conhecido o facto de várias vezes a grande maioria deles, especialmente o príncipe, ter sido traída por aqueles em quem depositavam maior confiança.

Não há pensamento ou acção que a esperança de recompensa não tente um homem. Os Utopianos não se poupam, quanto às recompensas. Bem sabem os perigos em que incorrem os que se prestam à traição e compensam generosamente a grandeza do perigo, com largos benefícios, prometendo-lhes não só abundância de ouro como terras de grande rendimento, situadas em lugar seguro, entre os seus aliados, cumprindo fielmente as promessas feitas. Entre os outros povos, o costume de comprar os inimigos é considerado reprovável e acto cruel, próprio de espíritos cobardes e baixos, Os Utopianos, por seu lado, sentem-se dignos de louvor, a este respeito, pois sabiamente conseguiram solucionar perspectivas de grandes guerras sem qualquer combate ou escaramuça. Consideram-no ainda um acto piedoso e de misericórdia, pois resgata e salva, pela morte de um punhado de culpados, a vida de muitos inocentes, não só entre os seus, como entre os seus inimigos, que de outro modo morreriam no campo de batalha. Pois a sua piedade tem em conta não só a sorte dos seus como a dos soldados inimigos, sabendo que foram





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