A Utopia - Cap. 2: Capítulo 2 Pág. 49 / 133

Pedro Giles interveio, então:

- De facto, ser-vos-á difícil convencer-me de que esse novo mundo está mais bem organizado que as nações que conhece- mos. Lá, como cá, há espíritos superiores e penso que as nossas instituições são mais antigas que as deles. A nossa longa experiência tornou úteis e cómodas para a vida humana imensas descobertas, sem falar nas muitas invenções nascidas do acaso e que nenhum génio jamais imaginaria.

- Quanto à antiguidade das instituições - respondeu-lhe Rafael-, poderíeis julgá-lo com mais sageza se tivésseis lido as histórias e crónicas desse país, em que já existiam cidades antes que os homens aqui habitassem. Quanto às invenções do génio e do acaso, podem surgir em toda a parte e não só aqui. Na verdade, admito que lhes possamos ser superiores em inteligência, mas ultrapassam-nos, em compensação, no estudo, na aplicação ao trabalho e no engenho.

«Eis um exemplo disso: até ali chegarmos, nunca tinham ouvido falar no nosso mundo, facto comprovado pelas suas crónicas. Chamavam-nos os Ultra-Equinocianos e nunca tinham contactado connosco, salvo há mil e duzentos anos atrás, quando um barco naufragou ao largo da ilha da Utopia, impelido até ali pela tempestade. As ondas lançaram à praia alguns romanos e egípcios, que nunca mais abandonaram o país. Reparai o proveito que eles tiraram dessa única ocasião, pelo seu esforço e aplicado engenho. Não houve ciência ou arte do Império Romano que não aproveitassem, aprendendo-as com estes estrangeiros, ou descobrindo-as a partir do que eles lhes tinham ensinado. De tal modo lucraram com este facto, que nenhum deles dali se afastou. Se se deu ocasião anterior a esta, que tenha trazido alguém à ilha, apagou-se completamente a memória do facto e talvez a minha estadia venha também a ser esquecida. Tal como então,





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