Para obviar, encontraram um meio, tão de acordo com os seus costumes e leis como discordante dos nossos, pelo qual aplicam e cuidadosamente conservam o ouro, meio que a nós repugna e desconcerta, concebível apenas aos olhos do sábio. Comem e bebem em baixelas de barro ou vidro, muito bem executadas e adornadas. Utilizam o ouro e a prata para fazer vasos de noite e outros recipientes de uso mesquinho, não só nos edifícios comuns como nas casas particulares. Fazem também dos mesmos metais as grandes cadeias, grilhetas e algemas com que amarram os escravos. Finalmente, os condenados por crimes são obrigados a usar anéis de ouro nas orelhas e nos dedos, cadeias de ouro no pescoço e mesmo uma espécie de freio de ouro.
Por todos estes meios, procuram manter o uso do ouro e da prata como infamante e reprovável, e estes metais, cuja perda nos outros povos é tão sentida como a da própria vida, no caso dos Utopianos, se toda a riqueza desaparecesse num repente, ninguém sentiria a sua falta. Apanham pérolas no mar e recolhem diamantes e pedras preciosas em certos rochedos, contudo não os procuram, mas, se os acham, gostam de as polir e lapidar. Adornam com eles as crianças, que nos primeiros anos se orgulham de usar tais ornamentos, mas, à medida que vão avançando em anos e inteligência, vendo que só apenas em criança se usam tais frivolidades e brinquedos, libertam-se deles espontaneamente, sem esperar pela