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Capítulo 2: Trova Segunda

Página 13

Mas o céu começou a toldar-se com o anoitecer: a escuridão cresceu e desfelcrou em vento, trovões, chuva e raios. O mancebo perdia a tramontana, e o ónagro dobrava a carreira e bufava violentamente. Parou, enfim, a horas mortas. Sem saber como, Astrigildo achou-se junto das barreiras de um solar acastelado.

Tocou a sua buzina, que deu um som prolongado e trémulo, porque ele tremia de susto e de frio. Apenas cessou de tocar, a ponte levadiça desceu, muitos escudeiros saíram a recebê-lo entre tochas, e as salas dos paços iluminaram-se.

Era que também a condessa tinha por três noites sonhado!

VIII

A clepsidra aponta a hora da sexta nocturna, e ainda dura o sarau no solar do conde de Biscaia; porque a nobre condessa e o gentil Astrigildo assistem às danças e aos jogos dos libertos e servos, que, para eles espairecerem, trebelham lá na sala das armas. Mas, num aposento baixo do solar, um homem está em pé com um punhal na mão, olhar furibundo e o cabelo eriçado, parecendo escutar longínqua toada.

Outro homem está diante dele, dizendo-lhe:

- Senhor, ainda não é tempo para punir o grande pecado. Quando eles se recolherem, aquela luz que vedes acolá há-de apagar-se. Subi então, e achareis desimpedido o caminho secreto para a câmara, que é a mesma do vosso noivado.

E o que falava saiu, e daí a pouco a luz apagou-se, e o homem dos cabelos hirtos e do olhar esgazeado subiu por uma íngreme e tenebrosa escada.

IX

Quando pela manhã cedo o conde Argimiro, do seu balcão principal, ordenava que levassem o corpo da condessa a um mosteiro de donas, que ele fundara para aí ter seu moimento, ele e os de sua casa, e dizia aos homens de armas que arrastassem o cadáver de Astrigildo e o despenhassem de um grande barrocal abaixo, viu ónagro silvestre deitado a um canto do pátio.

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Capa do livro A Dama Pé-de-Cabra
Páginas: 27
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Os capítulos deste livro:
Trova Primeira 1
Trova Segunda 6
Trova Terceira 16