Pinheiro não pode ser; não consta que em pontes nasçam.
Pardalo ria-se de rios; pontes, fazia tanto cabedal delas como de um retraço de palha. Todavia, bem que pudesse de um pulo salvar vinte ribeiras como aquela, foi-se direito à ponte; porque não era animal que fizesse áfricas escusadas.
Semelhante a relâmpago, se arrojou o ónagro àquele passo estreito... Mas, tá! ... Ei-lo que de repente pára.
E tremia como varas verdes; e arquejava com violência: os dois cavaleiros olharam.
O vulto esguio era um cruzeiro de pedra alevantado a meia ponte: por isso Pardalo emperrava.
Então, dentre uns altos choupos, que da margem dalém se meneavam, um pouco mais abaixo daquele sítio, ouviu-se uma voz fadigosa e trémula que cantava:
Para trás, para trás, a galgar. Já! De redor, de redor vem passar Cá
Que não há nada aqui que tem empeça. Bus, Nem palavra, vós dois! Fugi dessa Cruz!
- Santo nome de Cristo! ¬ exclamou D. Diogo, benzendo-se ao escutar aquela voz que bem conhecia, mas que, depois de tantos anos, não esperava ali ouvir, porque seu filho não lhe dissera que meio achara para o salvar.
Apenas o grito do velho soou, assim ele como D. Inigo foram bater contra o poial do cruzeiro, onde ficaram de bruços, envoltos em lodo. O ónagro, ao sacudi-los de si, soltara um rugido de besta-fera. Sentiram então um cheio intolerável de enxofre e de carvão de pedra inglês, que logo se percebia como coisa de Satanás.
E ouviram como um trovão subterrâneo; e a ponte balouçava, como se as entranhas da terra se despedaçassem.
Apesar do seu grande terror, e de chamar pela Virgem Santíssima, D. Inigo abriu um cantinho do olho para ver o que se passava.
Nós os homens costumamos dizer que as mulheres são curiosas.