Diogo Lopes, não lhe acharam sequer o rastro.
VI
D. Inigo e seu pai, o velho senhor de Biscaia, passam as portas de Toledo com a rapidez da frecha: num abrir e fechar de olhos ficam para trás muros, torres, barbacãs e atalaias. A bátega vai diminuindo: rasgam-se as nuvens, e vêem-se já reluzir algumas estrelas, que parecem outros tantos olhos com que o céu espreita através do negrume o que se passa cá em baixo.
A estrada, pelas descidas e subidas dos recostos, converteu-se em leito de torrente, nos plainos converteu-se em lago.
Mas, quer pelos lagos, quer pelas torrentes, o valente ónagro rompia avante, bufando como um danado.
Não subiram bem um monte, já descem pelo outro recosto abaixo; ainda bem não chegaram a uma clareira, já sentem em profunda floresta gotejaram-lhes em cima os ramos agitados das árvores.
Pouco mais é de meia-noite, e os topos nevados do Víndio recortam o chão estrelado do céu já limpo, semelhantes aos dentes de uma serra gigante capaz de dividir cérceo o hemisfério boreal.
E Pardalo investe, sempre em galope desfeito, com as montanhas disformes, e desce aos vales temerosos, e, cada vez mais ligeiro, como o seu nome o indica, parece menos quadrúpede que pássaro.
Mas que ruído é esse que sobreleva ao do vasco? Que é isso que, lá ao longe, ora alveja, ora reluz nas trevas, como uma alcateia de lobos envoltos em sudários brancos, com os olhos só descobertos, e despregando em fio pelo fundo do vale abaixo?
É um rio caudal e furioso, com o seu manto de escuma, e com as escamas angulosas de seu dorso eriçado, onde batem e chispam os raios das estrelas em mil reflexos quebrados.
Negreja sobre o rio uma ponte, ao meio desta um vulto esguio. Será um marco, uma estátua? - pensaram os cavaleiros.