Inigo de Biscaia.
E aquele braço crescia, alongando-se para o mesquinho, que, de medo, não ousava bulir nem falar.
E a mão da dama era preta e luzidia, como o pêlo da podenga, e as unhas tinham-se-lhe estendido bem meio palmo e recurvado em garras.
- Jesus, santo nome de Deus! - bradou D. Diogo, a quem o terror dissipara as fumaças do vinho. E, travando de seu filho com a esquerda, fez no ar com a direita, uma e outra vez, o sinal-da-cruz.
E sua mulher deu um grande gemido e largou o braço de Inigo Guerra, que já tinha seguro, e, continuando a subir ao alto, saiu por uma grande fresta, levando a filhinha que muito chorava.
Desde esse dia não houve mais saber nem da mãe nem da filha. A podenga negra, essa sumiu-se por tal arte, que ninguém no castelo lhe tornou a pôr a vista em cima.
D. Diogo Lopes viveu muito tempo triste e aborrido, porque já não se atrevia a montear. Lembrou-se, porém, um dia de espairecer sua tristura, e, em vez de ir à caça dos cerdos, ursos e zevras, sair à caça de mouros.
Mandou, pois, alevantar o pendão, desenferrujar e polir a caldeira, e provar seus arneses. Entregou a Inigo Guerra, que já era mancebo e cavaleiro, o governo de seus castelos, e partiu com lustrosa mesnada de homens de armas para a hoste de el-rei Ramiro, que ia em fossado contra a mourisma de Espanha.
Por muito tempo não houve dele, em Biscaia, nem novas nem mensageiros.